quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Da utilidade da Análise Sintática (parte I)

Se todos os professores de língua materna se reunissem e tivessem que dizer qual a piadinha que mais escutam dos alunos, certamente a pergunta " para que serve a analise sintática?" ficaria no topo da lista. Já escutei ironias como "saber o que é sujeito mudou a minha vida", bem como amigos ótimos (não estou sendo irônica: eram amigões mesmo) me dizendo que jamais conseguiram encontrar o sujeito de uma oração.
Esse tipo de coisa ora me preocupava, ora me irritava, mas recentemente, após uma reflexão sobre essa e tantas coisas, cheguei à conclusão de que todo ser humano que tenha adquirido a linguagem já sabe fazer análise sintática. Isso não quer dizer que a humanidade deva rasgar as gramáticas e seus sujeitos, predicados, termos acessórios e integrantes: Por favor, não faça uma coisa dessas, mesmo porque esses termos fazem uma falta danada em concursos.Mas mesmo sem colocar o nome dos termos, nós não só os reconhecemos como os produzimos.
Sabe como todo ser humano reconhece uma oração? Muito simples: quando um falante escuta a frase "eu e minha mãe fomos à casa da vovó almoçar" falada por mim, seu cérebro imediatamente registra dois acontecimentos: a ida à casada minha avó e o almoço que haverá ali. Assim, se alguém perguntar a essa pessoa que me escutou: "O que aconteceu com a Debora", quem me escutou certamente responderá "nada, foi para um almoço na casa da avó com a mãe". Não só quem me escutou entendeu que aconteceram duas coisas como ainda foi capaz de citar os acontecimentos de uma forma diferente.A pessoa que me escutou ainda conseguiu identificar o sujeito, porque se na conversa chegasse algúem que não me conhecesse e perguntasse "quem foi almoçar?" essa mesma pessoa que me escutou diria " a Debora e sua mãe". 
Chega a ser curioso que algo natural e, segundo alguns linguistas, inato, pareça tão complicado quando se usam os nomes dos bois (sujeito, predicado, objetos, adjuntos, etc.). 



sábado, 6 de julho de 2013

Fora do rumo

Essa semana eu dei uma pirada legal.
Equeci de tirar minha saia do molho, de imprimir as provas dos alunos com antecedência, de revisar as tarefas, de colocar meus projetos para frente. Esqueci tudo, e por um momento, não soube o que fazer.
A monografia foi finalizada, só falta a revisão da minha orientadora para ver se tem algo a mais para ser feito. Talvez, cumprir esse objetivo após ter abdicado dos outros temporariamente tenha me dado a impressão de que não conseguiria colocar os outros projetos para frente. Estive meio deprimida (excesso de progesterona, talvez) mas agora estou melhor.
Tenho muito o que fazer: as aulas, o casamento, o mestrado, meus textos (quero tentar escrever literatura), enfim. A vida não pára.

domingo, 9 de junho de 2013

Sobre o dulçor

- Me dá um pedacinho de bombom?
Estava eu, em algum período de 2012, saboreando uma daquelas maravilhosas trufas de chocolate da Cacau Show enquanto caminhava até o trabalho. Fui surpreendida por uma mulher desconhecida, na faixa dos 60 anos, que me fez o pedido acima.
No momento, me passou pela cabeça dizer não e prosseguir o meu caminho, mas o pensamento só durou um segundo: seria muito egoísmo ignorar seus olhos suplicantes como os de uma criança. Além disso, seu pedido tinha um tom de expectativa quase infantil e suas roupas gastas e a trouxa que carregava nas mãos indicavam que aquela mulher há muito não podia comprar um único doce: sua vida era amarga e cheia de privações.
- Pode ficar com o meu- disse à mulher.
Segui o meu caminho e aquela estranha seguiu o dela. Caminhei com a satisfação de quem deixou seu mundo com um pouco mais de dulçor.

sábado, 8 de junho de 2013

Sobre fadas e bruxas

Toda menina em algum momento deseja ser fada. Comigo não é diferente.
Na infância a fantasia aparece com o faz-de-conta, em que temos o poder de fazer com que amigos invisíveis: princesas, fadas e príncipes; tomem forma. Na adolescência, queremos ser fadas para encantar as pessoas à volta e descobrir mistérios que só o coração sabe: para isso, nos metamorfoseamos em patricinhas, nerds, poderosas ou em nós mesmas. Todas queremos deixar o nosso nome no mundo (o que invariavelmente me faz lembrar o quanto minhas alunas adoram escrever seus nomes no quadro negro). 
Na vida adulta, ser fada passa a ser inevitável: de que outra maneira uma mulher conseguiria trabalhar, estudar, cuidar da casa, dos filhos e ainda assim encontrar tempo para ser encantadora?
Gostaria que o meu encanto contagiasse meus alunos como sonhei nas minhas brincadeiras de infância. Gostaria de ser fada, mas tem me faltado aquela leveza e disposição em encantar, pois minhas tentativas têm sido em vão.
Encontro-me novamente assustada com o mundo, assustada com o lugar para onde as minhas escolhas me levaram e sobretudo, tem me passado pela cabeça a ideia de desistir do meu velho sonho de ser professora.
Mas não vou. Me culparia eternamente pelos anos desperdiçados com xerox, papel caneta e dedicação intelectual em um dos cursos mais densos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Eu me culparia, mesmo sabendo que os alunos que me lançam pedaços de giz e mancham minha roupa com corretivo não dão a mínima para minha culpa. Estão errados, mas tento entendê-los: são obrigados a estar na escola mesmo quando não querem, e nem ao menos entendem o porquê.
O que eu poderia dizer a eles eu já disse: chamo a atenção, grito (e como grito: se antes eu era uma soprano que ia até as notas mais agudas, hoje minha voz tem quase a extensão de um tenor), converso, falo sobre a vida e suas exigências. Entretanto, talvez a maioria deles ache que o discurso de uma professora de 23 com cara de adolescente de 15 seja hipócrita e vazio, alienado e repetitivo, como se eu não conhecesse nada sobre a vida e estivesse repetindo a fala dos outros. Mas insisto por aqueles que confiam no meu trabalho, sobretudo por mim mesma.
A educação impulsionou a minha vida: o que sou hoje devo a ela. Mesmo que a minha fada interior esteja machucada e triste, vou continuar.
Semana que vem vou deixar minha fada descansar um pouco e vou despertar a minha bruxa. Detesto me impor pelo medo mas a curto prazo não tem jeito: preciso mostrar-lhes que não estou para gracinhas...
Mas assim que a fada melhorar eu a acordarei... E seremos felizes para sempre!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O soldado que não era

O soldado que não era, de Joel Rufino dos Santos.

O que o soldado não era afinal?
Não ser pressupõe não ser algo,
supõe a negação
a falta de uma definição precisa,
substancial?


Teria mesmo existido
o tal soldado que não era?
Teria mesmo existido tamanha coragem
de tal modo que se pergunta?


Talvez fosse algo novo,
algo jamais visto antes
de aparecer aquele soldado
que não era Medeiros
não era soldado
não era homem.

Se o soldado não era um homem, o que seria?

Uma bela homenagem a Maria Quitéria:
Um soldado que não era soldado
Que não era homem para ser soldado
mas mulher, para ser guerreira como jamais houvera.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cenas Comuns, de Hellenice Ferreira

Não saberei dizer se o livro se trata de autobiografia ou autoficção, mas o fato é que através de um texto leve e de sonoridade quase poética, Hellenice Ferreira - Professora, Contadora de Histórias, Escritora, Colega de Pós e Conterrânea- trata de questões relativas à profissão de professora, à família, etc.
Apesar de ser constituídos por episódios (ou melhor, cenas) soltos, sem o encadeamento típico de romances e novelas, sua prosa sedutora nos faz querer ler do início ao final, sem parar.
O livro foi parar na lista dos meus favoritos sobretudo porque fez com que eu recuperasse o fôlego em minha corrida diária na afirmação de minha profissão como professora.

PS: Se você, caro leitor, não for mulher, mãe ou professor, certamente também gostará desse livro pelo bom humor em certas passagens, pela leveza do texto,  ou pela qualidade dele. Meu pai não é mulher, mãe ou professor, mas ainda assim gostou do livro.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Bem vindos

Este é um espaço de discussão sobre leitura e literatura infanto juvenil. Sempre que possível, estarei postando reflexões sobre estes temas, bem como links e imagens interessantes. Beijos.